sábado, 16 de janeiro de 2010

RZO VOLTANDO














“Está na hora de voltar”, afirmou KL Jay, DJ dos Racionais MCs, se referindo ao RZO em entrevista publicada na + Soma 6, em fevereiro de 2008. Pouco tempo depois, a Rapaziada da Zona Oeste estava nos palcos. Na época da dissolução do grupo, em 2004, muita fofoca rolou, mas a verdade é que Helião, Sandrão e DJ Cia sempre estiveram lado a lado, mesmo quando decidiram investir em projetos solo. “O povo fala coisas sem nem saber o que acontece. Diziam que a gente não se falava mais. Eu fiz a música ‘Respeito Oriental’, que apresentei com o CIA e a cantora japonesa Miss Mayume no VMB de 2007, mas quem fez o refrão? O Hélio!”, conta Sandrão.


A pressão para o retorno das atividades do grupo vinha forte dos amigos e fãs. Afinal de contas, o RZO é um grande ícone do rap nacional, um dos pouquíssimos nomes que transcenderam a barreira do underground e foram parar no mercado de massa. “Temos uma boa relação com a imprensa e hoje podemos dizer que estamos nas revistas, na TV. Mas infelizmente o rap ainda não tem vez na grande mídia”, lamenta Sandrão. Em 2000, o grupo – que já se posicionava como um dos mais conhecidos no cenário hip-hop e colecionava hits de seu primeiro disco, Todos São Manos (1998) – ganhou os holofotes do mainstream ao gravar a faixa “A Banca (Ratatá é Bicho Solto)”, no terceiro disco do Charlie Brown Jr., Nadando Com os Tubarões – bem na época em que a banda de Chorão estava em todas as rádios e na boca do povo. Negra Li, que na época fazia parte do RZO, também gravou com o quinteto de Santos a faixa “Não é Sério”, uma das mais tocadas do disco. Pronto, o RZO tinha ganhado a “playboyzada”, como dizem eles.









O balanço e a ironia dos caras passeia por um amplo leque de temas: da dura rotina na periferia à tiração de onda nas festas, sempre com uma perspectiva de orgulho favelado, de boemia e loucuras, mas levantando a bandeira do respeito ao próximo e sem papas na língua para defender o uso da maconha. O último disco, Evolução é uma Coisa (2001) – produzido no melhor estilo faça-você-mesmo, em cima da laje da casa do Helião com um Pentium 4, groovebox e teclado insonic –, foi um dos mais vendidos no subsolo da Galeria 24 de Maio e trouxe uma enxurrada de hits como “A Blazer”, “Quem não é Cabelo Voa” e “Titititi”, com participação de Sabotage, grande amigo do grupo, assassinado em 2003. Afinal, foi o RZO quem projetou o rapper na cena. Sandrão relembra a história: “Ele me deu uma fita com um pedaço da música ‘Rap é Compromiso’. Ouvi no walkman no meio de uma festa e disse que um dia ia buscar ele pra fazer um negócio com o RZO. Ele não acreditou. Depois de um ano eu fui com o Rappin’ Hood pra Zona Sul achar o cara sem nem saber onde ele morava, perguntando aqui e ali. Trouxemos ele pra Pirituba, fizemos a música na hora e ‘Rap é Compromiso’ estourou na sequência. Fomos de bike até o Capão Redondo, na casa do [Mano] Brown e levamos o som pra ele, que também decidiu dar uma força. Depois de uns dias fomos para o estúdio com o Ganjaman, o Zegon, Tejo, Quincas [do Instituto], e em 2001 o disco (homônimo) estava aí”.


O RZO leva muito a sério um dos conceitos mais banalizados do hip-hop: coletividade. E foi há um ano e meio que Helião, Sandrão e o DJ Cia voltaram, juntos, a figurar nos flyers de rap. Entre um trago e outro, os três falaram da segunda parte da caminhada. As faixas “Você Já Sabe” e “Louco” já estão nas pistas e no MySpace do grupo. Um disco novo está a caminho, mas ainda sem previsão para lançamento. Mas, para sentir um gostinho do que vem por aí, logo os fãs verão o clipe de “Louco”, que está sendo produzido pela Oll Dog Filmes e deve estrear na TV até o final do ano. Segundo Helião, trata-se de uma grande produção, na qual os realizadores estão investindo pesado. Outros dois clipes estão em negociação e, paralelamente, Sandrão trabalha a banda na web.

Outro tema que deve permear o disco novo é a questão ecológica: temas como água e sustentabilidade estão em pauta. No menu de assuntos novos figuram também reflexões sobre o sucesso. Nada de ostentação pimp (que passa longe do perfil do trio), mas falar das conquistas profissionais e materiais também é válido. “Estamos ganhando um dinheirinho, o Cia e o Sandrão compraram seus carros, eu estou prestes a ter o meu também e a gente quer comentar isso”, afirma Helião, o principal letrista do RZO. “Demos a vida numa parada e agora estamos colhendo frutos. E a gente quer se cuidar: ir pra academia, vestir roupas legais. A molecada curte o nosso som e os pais deles estão olhando. Se esses pais veem que nós estamos bem, vão falar que o rap faz bem”, completa o rapper, ostentando o símbolo do Santos F.C. da cabeça aos pés.








Helião está com 40 anos; Sandrão e Cia, com 36. Eles amadureceram, assim como o rap –afinal, a cada dia surgem novas batidas e métricas. Entre os novos nomes do hip-hop nacional, eles destacam Emicida, Flora Matos, Sevenlox, Wu-Furmigueiro, Família Madá, MC Nathy e U-Inversu. O trio entende que a música eletrônica e o funk carioca aterrissaram nas festas de rap – assim como o rap faz parte da programação de muitas baladas “de boy” – e que hoje todos disputam espaço nas mesmas pistas. Curtem o funk carioca e admiram sua evolução. Sandrão afirma ter sido o primeiro a subir no palco com cantores de funk, no auge do Proibidão, quando São Paulo ainda nem conhecia essa linha. “Acho que a música está aí pras pessoas optarem pelo que querem”, pensa. O rapper chegou a gravar com Mr. Catra a música “As Cachorras”, do disco WX (2006). “O funk é envolvente pra caramba, as batidas, a dança... E a gente está estudando uma forma de fazer um som nessa pegada também”, conta o rapper. “É importante passar mensagens para todos os tipos de público, mas também para os maiores de 18 anos. A gente tem nossos momentos de descontração, né? (risos)”

Sobre a competitividade e as dificuldades do rap e da música em geral no século XXI, ele é direto: “quem não fizer um bom disco ou não tiver um bom show não vai vender”. Apesar do espírito de concorrência velada que vez por outra desanda o caldo no rap brasileiro, o RZO segue apostando na união de talentos que sempre caracterizou o grupo. “Procuramos trazer pessoas novas para participar, tanto nas composições quanto nos shows”, explica Sandrão. O show é uma verdadeira reunião entre amigos, que acontece de forma quase imprevisível.

Na tarde chuvosa em que o RZO recebeu a + Soma na laje da casa de Helião em Pirituba, (a mesma onde produziram o clássico Evolução é Uma Coisa), haveria uma apresentação gratuita do grupo no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, como parte da programação musical do Outubro Independente (projeto da Secretaria da Cultura de São Paulo nascido no CCJ). O show estava marcado para as 20h, e às 17h ainda não se sabia quem iria participar. “Não tem nada programado, vamos dar uma ligada pro pessoal pra saber quem está por aí”, diz Sandrão. “Do pessoal que cola, cada um tem seus hits e o Cia tem acesso a todos os instrumentais de tudo quanto é grupo de rap”, completa. Os amigos MCs Dom Quixote, Du Bronk’s, Nego Jam, Sombra, Tio Fresh são habitués dos shows do RZO. E a Negra Li? “Com certeza vamos fazer alguma música com ela”, afirma Helião.

“Ele [o rapper Sabotage] me deu uma fita com um pedaço da música ‘Rap é Compromiso’. Ouvi no walkman no meio de uma festa e disse que um dia ia buscar ele pra fazer um negócio com o RZO. Ele não acreditou. Depois de um ano eu fui com o Rappin’ Hood pra Zona Sul achar o cara sem nem saber onde ele morava, perguntando aqui e ali. Trouxemos ele pra Pirituba, fizemos a música na hora e ‘Rap é Compromiso’ estourou na sequência.”
Além disso, o RZO também está com os dois pés no Big Bang Jhonson (escrito assim mesmo), um coletivo de all-stars do rap inventado pelos Racionais MCs. A base é formada pelos dois grupos ícones do rap nacional, mas conta com o reforço de Rosana Bronk’s, Consciência Humana, Conexão do Morro, Nego Jam, Quelynah, entre outros. E nem é preciso dizer que o combo vem lotando shows para cerca de 10 mil pessoas no Brasil inteiro.
Estamos num recomeço”, admite Cia, que concilia o RZO e o Big Bang com outra agenda bem agitada de apresentações solo. O beatmaker está colecionando gravações preciosas que realizou com gente como Nature, Ching, U-God (do Wu Tang Clan) e outros rappers gringos para compilar num disco. Mais um lançamento que com certeza vai bombar no mercado é o disco póstumo do Sabotage, que está sendo produzido por Daniel Ganjaman. “Só falta terminar as faixas do Helião e do Mano Brown”, conta Sandrão.

Com tantas possibilidades nas mangas, o retorno era iminente. Da mesma forma como começaram em 1990, cantando nas festas da Chic Show e da Black Magic, o RZO está de volta à cena. Afinal, quem é, é; quem não é cabelo voa!



Fonte: Revista +Soma

Texto : Nathalia Birkholz

Fotos :Amanda Louzada

myspace.com/rzobrasil

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