sábado, 16 de janeiro de 2010

3D













A maior feira de eletrônicos do mundo antecipa a onda de TVs, filmadoras, Blu-rays e até canais em terceira dimensão. E apresenta a nova geração de notebooks, tablets, celulares...

A cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, conhecida pelos cassinos exuberantes e por uma noite incansável, rendeu-se na semana passada a um batalhão sedento por novidades tecnológicas. Mais de 110 mil pessoas visitaram a Consumer Electronics Show, maior feira de eletrônicos do mundo. Nela, centenas de empresas demonstraram mais de 20 mil aparelhos, desde os mais avançados celulares, televisores e PCs até brinquedos, eletrodomésticos e carros. No burburinho dos corredores da CES, 2010 foi eleito o ano do cumprimento de diversas promessas do mercado de tecnologia que se arrastavam pela década de 2000.

A principal delas é a chegada da terceira dimensão a produtos que podemos comprar. Durante anos, os fabricantes apresentaram protótipos de TVs e filmadoras. Pela primeira vez elas apareceram com data de lançamento e preço. E são muitas. Empresas como Toshiba, LG, Samsung, Sony e Panasonic mostraram TVs, tocadores de Blu-ray e até uma filmadora que combinam a terceira dimensão com as imagens de alta resolução de cinema, o Full HD. Fui conferir algumas das demonstrações, com desconfiança. Experiências anteriores me deixaram com uma bela dor de cabeça. Ao assistir às imagens por muito tempo, algumas pessoas sentiam enjoo. Mas isso parece ter mudado. A tecnologia evoluiu, e a sensação de ver uma animação, um filme ou um jogo de futebol é extasiante. Ainda que seja necessário usar os desconfortáveis e egoístas óculos 3-D. Segundo os fabricantes, sem os óculos, ao menos a médio prazo, será impossível ver imagens tridimensionais.

Tão impressionante quanto as opções de aparelhos em 3-D é a promessa de conteúdo. A Sony, criadora do formato Blu-ray e do PlayStation 3 (PS3), anunciou que bastará uma atualização no software de seu videogame para que os games passem a interagir com o jogador como se estivesse dentro de sua casa. Na CES, vimos demonstrações de jogos para PS3 já funcionando em três dimensões, como o Prologue e o Grand Turismo 5. Mas o principal virá das emissoras. Na semana passada, os canais Fox, DirectTV e ESPN anunciaram que terão parte de sua programação pronta para a terceira dimensão nos Estados Unidos. A ESPN, por exemplo, avisou que os usuários poderão ver a Copa do Mundo de 2010 em 3-D. No Brasil, a TV Globo está estudando como implantar a tecnologia a tempo para a Copa. Segundo a Central Globo de Comunicação, a Fifa vai transmitir 25 jogos em 3-D. A TV Globo está trabalhando para que todos – ou pelo menos alguns – sejam mostrados em salas especiais, com TVs 3-D. Também estuda dedicar um dos canais da Net aos jogos tridimensionais. Enquanto os canais se adaptam às novas possibilidades, a Toshiba anunciou as TVs da série Cell, capazes de transformar qualquer conteúdo gerado em 2-D para 3-D. Fazem isso usando computação gráfica.

Essa invasão 3-D de agora tem um motivo. A tecnologia, que data do final do século XIX, teve sua primeira grande febre de utilização no cinema americano, ainda nos anos 50. As imagens eram gravadas por duas lentes sobrepostas e a plateia usava óculos muito similares aos que temos hoje. Os custos de gravação do conteúdo, em duas perspectivas diferentes, brecaram o avanço. Desta vez, com a computação gráfica, é possível dizer que a onda dos filmes em 3-D não corre risco de quebrar ao final da década de 10.

É cedo para calcular o impacto que a tecnologia terá em nossa vida. Transformará nossa maneira de consumir entretenimento, mas a profundidade disso é ainda imprecisa. “No futuro, as pessoas vão querer todo o conteúdo em 3-D”, disse Jon Landau, produtor do filme Avatar, durante sua apresentação no estande da Panasonic (que mostrou uma incrível TV 3-D de 152 polegadas). Se as previsões de Landau se concretizarem, fica a dúvida de qual será o impacto disso nas gerações vindouras. Crianças nascerão vendo o mundo real e o virtual em 3-D. Talvez enxerguem a transmissão do conteúdo em duas dimensões do mesmo modo como nós lembramos das TVs em preto e branco.

A segunda grande promessa cumprida em Las Vegas foi a transformação dos notebooks em aparelhos com outros formatos. E nomes. A Microsoft anunciou, pelas mãos do seu executivo-chefe, Steve Ballmer, um novo conceito de computador, os slates, ou tablets. São máquinas que se parecem com um iPhone gigante. Além das funções de netbook, o modelo de Slate da HP apresentado por Ballmer traz o software do Kindle, que permite que o usuário compre seus livros eletrônicos na Amazon. Outras possibilidades apareceram. A Lenovo criou um notebook cuja tela se destaca e vira um tablet com processador e memória independentes. A Samsung mostrou o protótipo de computador com tela transparente. Alguns netbooks, os computadores menores, leves e baratos, ficaram indistinguíveis dos smartphones. Estão sendo chamados de smartbooks.

Uma variante dos computadores, os livros eletrônicos, até então uma aposta mais forte da loja de livros on-line Amazon, com o Kindle, e da Sony, ganharam modelos de vários fabricantes. Algumas empresas optaram por criar parcerias com o Google Books, serviço de digitalização da empresa americana que ultrapassou a marca dos 10 milhões de títulos com uma série de livros que já são de domínio público, gratuitos, e mais alguns milhares disponíveis a partir de parcerias com empresas produtoras de conteúdo. Essas novas encarnações dos computadores móveis se amparam em transformações nos chips que reduzem o consumo de bateria. Até então, os netbooks mais eficientes prometiam algo como três ou quatro horas ligados. Nos novos, a carga completa pode durar até dez horas.

A terceira surpresa da CES 2010 foi a onipresença do Android, sistema operacional do Google criado para aparelhos móveis. Até então, era só um promissor sistema para smart- phones. Já no primeiro dia da feira, o sistema do Google ganhou as atenções em diferentes frentes. Fabricantes, como a Dell, a HP e até HTC (que faz celulares), apresentaram notebooks e tablets que rodam com o Android. O Alex Reader, da Spring Designer, protótipo de um livro eletrônico, também funciona com o sistema. Mais que uma alternativa para o Windows, o Android pode ser um sistema capaz de integrar aparelhos tão diversos quanto computadores e câmeras fotográficas.

Esses novos aparelhos também têm poderes para se comunicar entre si e com a internet. Impressoras e rádios-relógios com conexão Wi-Fi podem acessar sites de serviços, redes de relacionamento e baixar conteú­dos, de filmes a arquivos guardados na rede. Entre as vedetes da feira estavam programas de celular para operar o carro elétrico Volt, da GM, através do iPhone, do Blackberry ou de um Android. Outro programa controlava um robô-helicóptero com o iPhone. É quase irônico que essa onda de lançamentos extraordinários aconteça numa época de crise econômica mundial. A indústria eletrônica sempre foi mais resistente a crises. Pelo que se viu na CES, talvez até possa dar uma acelerada na recuperação da economia.

Fonte:Revista Epóca

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