quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ocupação Chico Science













A morte precoce de Chico
Science, em um acidente de carro, há 13 anos, quando ele contava apenas 30, não foi capaz de deter a cooperativa cultural pernambucana que, no início dos anos 1990, revolucionou a música pop brasileira ao globalizar ritmos regionais como o maracatu e o coco, misturando-os com rock, hip hop e música eletrônica. As influências e os frutos do mangue beat chegam aos dias atuais, mais de 15 anos após o lançamento do álbum que iniciou o movimento, "Da lama ao caos", de Chico Science & Nação Zumbi.

O mangue beat comprovou os versos na canção "Estética da periferia" de Fred Zero Quatro, outro expoente do movimento, autor do manifesto "Caranguejos com cérebro" e fundador da banda mundo livre S/A: "Não espere nada do centro / Se a periferia está morta / Pois o que era velho no norte / Se torna novo no sul".

E já era hora do centro render homenagem à revolução que veio do Recife. O tributo começa nesta quarta-feira, com a " Ocupação Chico Science " no Itaú Cultural, na Avenida Paulista. A mostra, que pela primeira vez tem como tema um músico, convida o público a conhecer a obra e o processo criativo de Francisco de Assis França (nome de batismo de Science).

Contagiados pelo espírito coletivo do mangue beat, os curadores Ana de Fátima Souza e Edson Natale reuniram um grupo de colaboradores para criar a ocupação.

- Trabalhamos com o conceito de curadoria coletiva, muito em função da característica do trabalho do próprio Chico. Não podíamos fazer uma ocupação nos moldes das anteriores, como as dedicadas a José Celso Martinez Corrêa ou Nelson Leirner. Chico Science teve um período muito curto e fértil de carreira, portanto resolvemos focar em seu universo criativo, na época em que ele mudou o norte da música brasileira - explica Ana de Fátima, conterrânea de Science, que acompanhou de perto as mudanças da cena musical de Recife na década de 90.

Participam da curadoria coletiva o cineasta e roteirista Hilton Lacerda e o músico Helder Aragão (também conhecido como DJ Dolores), que nos anos 90 formavam a dupla Dolores & Morales, responsável pela direção de clipes do movimento e pelo projeto gráfico do CD "Da lama ao caos". A irmã de Chico, Goretti França, e a filha do artista, Louise Science, também colaboraram com a elaboração da mostra, bem como o amigo, parceiro e produtor Paulo André Pires, o Fred Zero Quatro, e Jorge Du Peixe, músico da Nação Zumbi.

Com a sensação de que presenciava algo grandioso, o produtor Pires - criador do festival Abril Pro Rock - guardou tudo o que pôde sobre a carreira de Chico Science à frente da Nação Zumbi. Em menos de três anos, o grupo empreendeu três turnês internacionais.

- O Brasil não entendeu a música de Chico Science. Vimos o exterior como a possibilidade de não ficarmos reféns do mercado brasileiro, onde a ignorância permanece. Chico Science tem a mesma importância para a música brasileira que artistas como Cazuza e Cássia Eller, mas está longe de ter a mesma popularidade - afirma o produtor, que, entre outras preciosidades, guarda até hoje o cheque com o cachê de US$ 100 ganho pela banda pelo show realizado no CBGB, em Nova York, e assinado por Hilly Kristal, dono do lendário e extinto bar.

Do acervo da família de Science vieram fotografias, objetos de uso pessoal, obras de arte e cadernos de anotações do artista. A irmã lembra que ele era "uma pessoa que não conhecia o cansaço nem o desânimo. Era como se soubesse que as coisas iam acontecer":

Chico era encantado com a vida. Via poesia nas coisas e enxergava beleza em tudo - define Goretti. - Ele falava sobre seu trabalho como uma "diversão levada a sério". Espero me divertir com a mostra e tenho a sensação de que vou encontrar Chico lá. O público poderá ver como ele se envolvia em todas as etapas do processo criativo.

Para Lacerda, um dos parceiro de Chico na criação visual, a mostra pode trazer de volta o espírito inovador da época.

- O mais interessante foi reunir tantas pessoas diferentes e ao mesmo próximas colaborando em um resgate do período e do movimento. A cultura brasileira está muito careta. É bom se debruçar sobre coisas que possam servir de inspiração. Espero que a mostra não seja apenas memória, que por si só não traz muita coisa a não ser saudade, mas que sirva como um sopro de inovação - torce Lacerda.










Produtor prepara livro e cogita filme sobre Science

A reunião possibilitada pela curadoria da ocupação vai render frutos. Pires prepara um livro sobre a trajetória de Chico Science. O produtor também quer fazer um filme sobre o artista, em parceria com Lacerda e outros artífices do mangue beat.

- A mostra recria o ambiente supercriativo da época, sem ser nostálgica. Nosso sonho na época era trabalhar com música e tecnologia. Se Chico estivesse vivo, imagino que estaria fazendo isso, pois hoje é tudo mais barato e acessível - conclui Helder Aragão, o DJ Dolores.

Fonte:globo.com

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