quarta-feira, 6 de junho de 2012

PARALAMAS DO SUCESSO REINAUGURAM ESPAÇO DE SHOW EM VIGÁRIO GERAL

O Paralamas do Sucesso tem entre as características de sua música a denúncia das desigualdades sociais, em versos como “A cidade apresenta suas armas/Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos...” (de ‘Selvagem’, 1986) ou “E a cidade/ que tem braços abertos num cartão postal/Com os punhos fechados na vida real” (de ‘Alagados’, 1986). É, portanto, bastante apropriado que o trio formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone tenha sido convidado a desfilar seus sucessos, hoje, a partir das 20h, na festa gratuita de reinauguração da Praça Tropicalismo, que faz parte do Centro Cultural Waly Salomão, do AfroReggae, na Rua Santo Antônio 11, em Vigário Geral.


Foto: Felipe O'Neill / Agência O Dia

“O Rappa é outra banda que tem essa característica. Nós temos uma simpatia e amizade de longa data com o AfroReggae, já tocamos em diversos eventos assim, em locais não-pacificados. Não tenho o menor medo”, garante o baixista Bi Ribeiro, lembrando que, certa vez, quase que o tempo fechou. “Não lembro que favela era, mas tinha armas na rua  os bandidos nos pararam e perguntaram: ‘Vocês vão pra onde?’. Dissemos: ‘Somos da banda, vamos tocar ali’, e conseguimos ser liberados”.
Afinada com o discurso do Paralamas, a ação da ONG capitaneada por José Junior tem conseguido manter a favela, que não tem UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), distante do estigma de local de alta periculosidade e alto índice de violência.
“Nunca, em quase 20 anos de história, alguém morreu ou sequer foi assaltado em evento do AfroReggae. Agora, no Rio, é arriscado até ir ver show na Zona Sul da cidade. Não vou ser leviano e falar que Vigário Geral é um paraíso, mas nenhum lugar na cidade é”, compara José Junior. “Esse evento não é só para a comunidade, é para todo o Rio de janeiro  vir conferir. A ideia é integrar a cidade”.
Bi Ribeiro acredita que houve avanços sociais em relação à realidade cantada pelo Paralamas nas antigas letras, citadas no início do texto, e até mesmo em mais recentes, como “Eu vivo sem saber até quando ainda estou vivo/Sem saber o calibre do perigo/Eu não sei d’aonde vem o tiro” (de ‘O Calibre’, 2002).
“A gente andou bastante, mas tem muita coisa para fazer. Assim como em Vigário Geral, as comunidades estão se reorganizando e conquistando vitórias. Na época em que fizemos ‘Alagados’, o desafio era muito maior. O principal problema ainda é a educação . Se o governo não parar para erradicar isso, vai ficar difícil”, opina.

REFORMA DE GRIFE
A reformulação da Praça Tropicalismo tem a assinatura do designer Luiz Stein. A nova versão do espaço ganhou um telhado que abre e fecha, possibilitando que se curtam os eventos por lá a céu aberto ou com a cobertura, em caso de chuva. “O Centro Cultural Waly Salomão foi inaugurado em maio de 2010, com com shows de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil. No decorrer de 2010 e 2011, a gente teve vários eventos. A ideia é ter mais coisas de dança, teatro e cinema, que são mais raras na comunidade. Paramos por alguns meses, para poder fazer a praça, que agora está aí, novinha”, detalha José Junior.
A inauguração marca ainda a reabertura de uma série de variadas produções artísticas, como o Flupp — Festival Literário Internacional das UPPs; as Férias na Praça, com oficinas de circo, passinho e capoeira, e sessões de cinema abertas.
30 ANOS DE ROCK
O show em Vigário Geral será um apanhado dos sucessos da carreira do Paralamas. O grupo, porém, está prestes a completar 30 anos de estrada, desde o lançamento do primeiro disco, ‘Cinema Mudo’ (1983), e vem comemoração por aí. “Não vamos gravar nada novo este ano, porque estamos nos organizando para fazer algum tipo de celebração, que deve acontecer no começo do ano que vem”, conta Bi.
Recentemente, o grupo fez um show temático, só com o repertório de seu clássico álbum ‘Selvagem?’. Será que um tributo ao primeiro lançamento estaria nos planos? “A gente curtiu muito fazer este show temático. Na verdade, acho que um outro álbum que mereceria essa homenagem seria ‘O Passo do Lui’ (1984), que foi muito marcante, porque era aquele comecinho da onda do rock brasileiro dos anos 80 e estourou um monte de músicas, como ‘Óculos’ e ‘Meu Erro’.
A ideia é fazer uma apresentação em um lugar especial, para marcar mesmo”, anuncia o baixista.

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