O Paralamas do Sucesso tem entre as características de sua música a
denúncia das desigualdades sociais, em versos como “A cidade apresenta
suas armas/Meninos nos sinais, mendigos pelos cantos...” (de ‘Selvagem’,
1986) ou “E a cidade/ que tem braços abertos num cartão postal/Com os
punhos fechados na vida real” (de ‘Alagados’, 1986). É, portanto, bastante apropriado que o
trio formado por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone tenha sido
convidado a desfilar seus sucessos, hoje, a partir das 20h, na festa
gratuita de reinauguração da Praça Tropicalismo, que faz parte do Centro
Cultural Waly Salomão, do AfroReggae, na Rua Santo Antônio 11, em
Vigário Geral.
“O Rappa é outra banda que tem essa característica. Nós temos uma
simpatia e amizade de longa data com o AfroReggae, já tocamos em
diversos eventos assim, em locais não-pacificados. Não tenho o menor
medo”, garante o baixista Bi Ribeiro, lembrando que, certa vez, quase
que o tempo fechou. “Não lembro que favela era, mas tinha armas na rua
os bandidos nos pararam e perguntaram: ‘Vocês vão pra onde?’. Dissemos:
‘Somos da banda, vamos tocar ali’, e conseguimos ser liberados”.
Afinada com o discurso do Paralamas, a ação da ONG capitaneada por José
Junior tem conseguido manter a favela, que não tem UPP (Unidade de
Polícia Pacificadora), distante do estigma de local de alta
periculosidade e alto índice de violência.
“Nunca, em quase 20 anos de história, alguém morreu ou sequer foi
assaltado em evento do AfroReggae. Agora, no Rio, é arriscado até ir ver
show na Zona Sul da cidade. Não vou ser leviano e falar que Vigário
Geral é um paraíso, mas nenhum lugar na cidade é”, compara José Junior.
“Esse evento não é só para a comunidade, é para todo o Rio de janeiro vir conferir. A ideia é integrar a cidade”.
Bi Ribeiro acredita que houve avanços sociais em relação à realidade
cantada pelo Paralamas nas antigas letras, citadas no início do texto, e
até mesmo em mais recentes, como “Eu vivo sem saber até quando ainda
estou vivo/Sem saber o calibre do perigo/Eu não sei d’aonde vem o tiro”
(de ‘O Calibre’, 2002).
“A gente andou bastante, mas tem muita coisa para fazer. Assim como em Vigário Geral, as comunidades estão se reorganizando e conquistando vitórias. Na época em que fizemos ‘Alagados’, o desafio era muito maior. O principal problema ainda é a educação . Se o governo não parar para erradicar isso, vai ficar difícil”, opina.
REFORMA DE GRIFE
“A gente andou bastante, mas tem muita coisa para fazer. Assim como em Vigário Geral, as comunidades estão se reorganizando e conquistando vitórias. Na época em que fizemos ‘Alagados’, o desafio era muito maior. O principal problema ainda é a educação . Se o governo não parar para erradicar isso, vai ficar difícil”, opina.
REFORMA DE GRIFE
A reformulação da Praça Tropicalismo tem a assinatura do designer Luiz
Stein. A nova versão do espaço ganhou um telhado que abre e fecha,
possibilitando que se curtam os eventos por lá a céu aberto ou com a
cobertura, em caso de chuva. “O Centro Cultural Waly Salomão foi
inaugurado em maio de 2010, com com shows de artistas como Caetano
Veloso e Gilberto Gil. No decorrer de 2010 e 2011, a gente teve vários
eventos. A ideia é ter mais coisas de dança, teatro e cinema, que são
mais raras na comunidade. Paramos por alguns meses, para poder fazer a
praça, que agora está aí, novinha”, detalha José Junior.
A inauguração marca ainda a reabertura de uma série de variadas
produções artísticas, como o Flupp — Festival Literário Internacional
das UPPs; as Férias na Praça, com oficinas de circo, passinho e
capoeira, e sessões de cinema abertas.
30 ANOS DE ROCK
O show em Vigário Geral será um apanhado dos sucessos da carreira do
Paralamas. O grupo, porém, está prestes a completar 30 anos de estrada,
desde o lançamento do primeiro disco, ‘Cinema Mudo’ (1983), e vem
comemoração por aí. “Não vamos gravar nada novo este ano, porque estamos
nos organizando para fazer algum tipo de celebração, que deve acontecer
no começo do ano que vem”, conta Bi.
Recentemente, o grupo fez um show temático, só com o repertório de seu
clássico álbum ‘Selvagem?’. Será que um tributo ao primeiro lançamento
estaria nos planos? “A gente curtiu muito fazer este show temático. Na
verdade, acho que um outro álbum que mereceria essa homenagem seria ‘O
Passo do Lui’ (1984), que foi muito marcante, porque era aquele
comecinho da onda do rock brasileiro dos anos 80 e estourou um monte de
músicas, como ‘Óculos’ e ‘Meu Erro’.
A ideia é fazer uma apresentação em um lugar especial, para marcar mesmo”, anuncia o baixista.
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